Mortes por diarreia entre crianças devem aumentar com aquecimento global, alerta estudo
02/08/2025
(Foto: Reprodução) ‘Do Fogo ao Verde’: veja atitudes que ajudam a diminuir aquecimento global
As mudanças climáticas devem agravar significativamente o risco de doenças diarreicas fatais em crianças pequenas, especialmente no sul e sudeste da Ásia. A conclusão é de um estudo inédito publicado na revista científica Environmental Research, que analisou dados de mais de 3 milhões de crianças em oito países asiáticos.
A pesquisa, liderada por cientistas da Universidade Flinders (Austrália), alerta que temperaturas extremas e estações chuvosas incomumente mais secas — dois efeitos já documentados do aquecimento global — estão diretamente ligadas ao aumento de casos de diarreia infantil, uma das principais causas de morte em menores de cinco anos nos países de baixa e média renda.
Aquecimento e seca aumentam risco em até 39%
De acordo com a modelagem realizada pelos pesquisadores, oscilações de temperatura entre 30 °C e 40 °C elevam o risco de diarreia em 39%, enquanto estações de chuva anormalmente secas aumentam o risco em 29%.
“Com o avanço das mudanças climáticas, as crianças do sul global enfrentarão um risco ainda maior de doenças que já são evitáveis com ações básicas de saúde pública”, diz o professor Corey Bradshaw, um dos autores do estudo.
Atualmente, cerca de 88% das mortes por diarreia estão relacionadas ao consumo de água contaminada ou condições precárias de saneamento. Melhorar o acesso à água potável pode reduzir o risco em até 52%, e a ampliação de sistemas sanitários pode trazer redução de 24%.
AFP
Educação materna é fator decisivo
Um dos principais achados do estudo é o impacto direto da educação materna na proteção das crianças. Filhos de mães com menos de oito anos de escolaridade apresentaram um risco 18% maior de desenvolver doenças diarreicas.
“Investir na educação de meninas e mulheres é uma das ferramentas mais poderosas e escaláveis para a adaptação climática”, afirma Hira Fatima, autora principal da pesquisa. “A educação melhora o conhecimento sobre higiene, incentiva a amamentação e ajuda no reconhecimento precoce de sintomas, o que pode salvar vidas.”
Segundo os pesquisadores, além de ser um dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da Organização das Nações Unidas (ONU), a educação deve ser tratada como política central de saúde climática, sobretudo em regiões densamente povoadas e vulneráveis.
Mudanças climáticas e desigualdade
Os autores do estudo também alertam que, apesar de contribuírem menos para as emissões de gases do efeito estufa, países de baixa e média renda serão os mais afetados pelo impacto sanitário das mudanças climáticas. Entre as consequências previstas estão o aumento de surtos de doenças infecciosas, mortalidade infantil e sobrecarga nos sistemas de saúde pública.
“Ainda que esses países não sejam os maiores responsáveis pela crise climática, continuarão arcando com os efeitos mais severos — especialmente as crianças mais pobres”, afirma Melinda Judge, coautora da pesquisa.
Para mitigar os riscos, o estudo recomenda que os governos priorizem:
Investimento em educação materna, especialmente por meio de programas de saúde da infância.
Melhorias no acesso à água potável e saneamento básico.
Políticas habitacionais que reduzam a superlotação e favoreçam ambientes saudáveis.
Monitoramento e resposta rápida a surtos de doenças em períodos de calor extremo ou seca.
“O tempo para agir é agora”, conclui o professor Peter Le Souëf. “Sem medidas concretas, os efeitos das mudanças climáticas vão ampliar desigualdades e colocar em risco milhões de vidas infantis nos próximos anos.
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